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Quem é o melhor candidato a presidente do Uruguai para o Brasil e para o Mercosul?
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As preferências dos eleitores uruguaios para a eleição do próximo domingo (24) estão divididas em duas metades praticamente iguais, mais à esquerda ou mais à direita, sem que isso signifique uma polarização. O Uruguai vive uma disputa voto a voto para definir o presidente que vai governar pelos seguintes cinco anos, a partir de 1º. de março. Mas qual candidato está mais em sintonia com a atual visão de mundo do Brasil e qual se distancia da liderança do governo brasileiro?
Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires
Esta é das disputas mais acirradas da história recente do Uruguai e opõe dois candidatos tecnicamente empatados: o opositor de centro-esquerda, Yamandú Orsi e o governista de centro-direita, Álvaro Delgado.
No primeiro turno, em 27 de outubro, o candidato da Frente Ampla, Yamandú Orsi, obteve 43,9% dos votos, ficando bem à frente de Álvaro Delgado, do Partido Nacional, o mesmo do atual presidente Luis Lacalle Pou, com 26,7% dos votos.
Porém, Álvaro Delgado, integrante da Coalizão Republicana, foi apenas um dos candidatos da coligação. Cada partido concorreu com candidato próprio no primeiro turno, mas enfileirados em torno do ganhador no segundo.
Após a aglutinação de apoios, a disputa ficou tão renhida que pode reconstruir o mesmo cenário de cinco anos atrás, quando Luis Lacalle Pou foi eleito. Em 2019, a diferença entre o eleito Lacalle Pou e o derrotado Daniel Martínez foi de apenas 37 mil votos, equivalentes a 1,2% dos votos válidos, adiando a definição do eleito durante alguns dias.
“Não podemos afirmar quem ganhará porque, devido à paridade, estamos diante de um final aberto. Os eleitores indecisos tendem a decidir o voto nas horas prévias à votação. Teremos de esperar a pesquisa boca de urna para ver se o país vai continuar na centro-direita ou voltar à centro-esquerda que governou o Uruguai durante 15 anos, entre 2005 e 2020”, disse à RFI o analista político e diretor da Consultora Factum, Oscar Bottinelli.
Horas decisivas
Todas as sondagens indicam uma ligeira vantagem entre dois e três pontos a favor de Yamandú Orsi, da opositora Frente Ampla. Ocorre, porém, que todas essas diferenças estão dentro da margem de erro das pesquisas.
Segundo a Factum, o candidato Yamandú Orsi tem 47% das preferências, enquanto Álvaro Delgado está dois pontos abaixo, com 45%. Os indecisos somam 5%.
Segundo a consultora Usina de Percepção Cidadã, três pontos separam Yamandú Orsi, com 46%, de Álvaro Delgado, com 43%. Os indecisos, neste caso, são 7%.
A divisão do Uruguai, no entanto, ao contrário dos países da região, não significa uma polarização de extremos nem nenhum candidato questiona o sistema.
“No Uruguai, as instituições geram legitimidade e confiança na Democracia. Temos indicadores de que cada vez menos gente se sente identificada com os partidos, mas não representa uma ameaça ao sistema. Por enquanto, ainda é alto a porcentagem dos que se identificam”, explica à RFI a cientista política, Micaela Gorritti, da Universidade da República.
O candidato opositor, Yamandú Orsi, tem um enfoque mais social, com um Estado mais presente, mas sem perder de vista o pragmatismo econômico nem a visão de mercado.
O candidato governista, Álvaro Delgado, tem um enfoque de mercado, mas sem perder a sensibilidade social nem questionar o papel do Estado em temas básicos como Saúde, Educação e Segurança.
“Os programas de governo dos candidatos têm muita proximidade em áreas como Segurança, Educação e Macroeconomia, mas em Política Externa a diferença é notável. Quando abordamos a inserção internacional vemos o ponto mais distante entre as propostas”, observa Micaela Gorritti, especialista em Política Externa do Uruguai.
Sintonia e colisão com o Brasil
Para Micaela Gorritti, a política externa do atual governo de Luis Lacalle Pou foi marcada pela ausência de uma estratégia de inserção internacional.
“Lacalle Pou não teve uma política externa planejada. Foi muito enfático em projetar acordos comerciais, tendo como caso revelador um Tratado de Livre Comércio com a China. Essa ideia ocupou um lugar muito importante na agenda durante muito tempo, mesmo quando se sabia que não era possível porque era irracional romper com o Mercosul”, recorda Gorritti.
O bloco formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, como União Alfandegária, não permite que nenhum dos seus membros negocie de forma individual um acordo comercial com um terceiro país. Uma flexibilização nessa regra faria o bloco recuar a uma mera Zona de Livre Comércio. Para a especialista, o candidato governista, Álvaro Delgado, representa uma continuidade dessa política “agressiva” contra o bloco que, segundo Lacalle Pou, representa “uma camisa-de-força para o Uruguai”.
“Se Álvaro Delgado ganhar, o mais beneficiado seria o presidente argentino, Javier Milei, quem já indicou querer modernizar o Mercosul. Quando se referem a ‘modernizar’, querem dizer voltar a uma Zona de Livre Comércio”, compara a analista.
Na semana passada, o presidente Javier Milei anunciou que procurará um Tratado de Livre Comércio com os Estados Unidos, a partir da chegada de Donald Trump à Presidência. Uma negociação de forma bilateral fere as regras do Mercosul e significa uma colisão com o Brasil.
O presidente Lula convidou o atual presidente Luis Lacalle Pou à recente reunião do G20 no Rio de Janeiro. “Mas Lacalle Pou não foi para marcar uma distância com a liderança de Lula”, ressalta Gorritti.
Do outro lado, Yamandú Orsi, seria o melhor candidato para o governo Lula não só pela sintonia ideológica, mas pela visão de um mundo multilateral e da importância do Mercosul.
“O Mercosul seria central. Orsi enfocaria nesse ponto e na liderança do Brasil. O discurso rupturista cederia lugar ao da integração. Lula seria um aliado e o Mercosul, a plataforma de inserção internacional do Uruguai. Uma eventual demanda de flexibilização do bloco passaria pelo diálogo como o governo Lula”, aposta Micaela Gorritti.
Governabilidade
Na reta final deste segundo turno, a estratégia para convencer os indecisos passou pela garantia de governabilidade.
No primeiro turno, nenhum dos dois lados conseguiu o controle da Câmara de Deputados, mas a opositora Frente Ampla conseguiu a maioria no Senado (16 dos 30 senadores). Isso lhe permite vetar qualquer iniciativa com a qual não concordar.
Por isso, o opositor Yamandú Orsi enfatizou que tem maioria para governar e que pode obter acordos na Câmara de Deputados porque o partido obteve a maior bancada (48 dos 99 deputados).
Já Álvaro Delgado, candidato de cinco partidos, procurou reforçar a ideia de que representa uma coalizão unida para governar.
“A Frente Ampla tem maiores chances de governabilidade porque tem maioria no Senado. No Congresso, as negociações e os acordos serão necessários. Os deputados de partidos menores não devem ser suficientes para desempatar. Os dois blocos estarão obrigados a negociar entre si”, aponta à RFI a cientista política Marcela Schenck, da Usina de Percepção Cidadã.
E esses acordos afastam qualquer hipótese de uma mudança radical no Uruguai e garantem a moderação pelos próximos cinco anos.
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As preferências dos eleitores uruguaios para a eleição do próximo domingo (24) estão divididas em duas metades praticamente iguais, mais à esquerda ou mais à direita, sem que isso signifique uma polarização. O Uruguai vive uma disputa voto a voto para definir o presidente que vai governar pelos seguintes cinco anos, a partir de 1º. de março. Mas qual candidato está mais em sintonia com a atual visão de mundo do Brasil e qual se distancia da liderança do governo brasileiro?
Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires
Esta é das disputas mais acirradas da história recente do Uruguai e opõe dois candidatos tecnicamente empatados: o opositor de centro-esquerda, Yamandú Orsi e o governista de centro-direita, Álvaro Delgado.
No primeiro turno, em 27 de outubro, o candidato da Frente Ampla, Yamandú Orsi, obteve 43,9% dos votos, ficando bem à frente de Álvaro Delgado, do Partido Nacional, o mesmo do atual presidente Luis Lacalle Pou, com 26,7% dos votos.
Porém, Álvaro Delgado, integrante da Coalizão Republicana, foi apenas um dos candidatos da coligação. Cada partido concorreu com candidato próprio no primeiro turno, mas enfileirados em torno do ganhador no segundo.
Após a aglutinação de apoios, a disputa ficou tão renhida que pode reconstruir o mesmo cenário de cinco anos atrás, quando Luis Lacalle Pou foi eleito. Em 2019, a diferença entre o eleito Lacalle Pou e o derrotado Daniel Martínez foi de apenas 37 mil votos, equivalentes a 1,2% dos votos válidos, adiando a definição do eleito durante alguns dias.
“Não podemos afirmar quem ganhará porque, devido à paridade, estamos diante de um final aberto. Os eleitores indecisos tendem a decidir o voto nas horas prévias à votação. Teremos de esperar a pesquisa boca de urna para ver se o país vai continuar na centro-direita ou voltar à centro-esquerda que governou o Uruguai durante 15 anos, entre 2005 e 2020”, disse à RFI o analista político e diretor da Consultora Factum, Oscar Bottinelli.
Horas decisivas
Todas as sondagens indicam uma ligeira vantagem entre dois e três pontos a favor de Yamandú Orsi, da opositora Frente Ampla. Ocorre, porém, que todas essas diferenças estão dentro da margem de erro das pesquisas.
Segundo a Factum, o candidato Yamandú Orsi tem 47% das preferências, enquanto Álvaro Delgado está dois pontos abaixo, com 45%. Os indecisos somam 5%.
Segundo a consultora Usina de Percepção Cidadã, três pontos separam Yamandú Orsi, com 46%, de Álvaro Delgado, com 43%. Os indecisos, neste caso, são 7%.
A divisão do Uruguai, no entanto, ao contrário dos países da região, não significa uma polarização de extremos nem nenhum candidato questiona o sistema.
“No Uruguai, as instituições geram legitimidade e confiança na Democracia. Temos indicadores de que cada vez menos gente se sente identificada com os partidos, mas não representa uma ameaça ao sistema. Por enquanto, ainda é alto a porcentagem dos que se identificam”, explica à RFI a cientista política, Micaela Gorritti, da Universidade da República.
O candidato opositor, Yamandú Orsi, tem um enfoque mais social, com um Estado mais presente, mas sem perder de vista o pragmatismo econômico nem a visão de mercado.
O candidato governista, Álvaro Delgado, tem um enfoque de mercado, mas sem perder a sensibilidade social nem questionar o papel do Estado em temas básicos como Saúde, Educação e Segurança.
“Os programas de governo dos candidatos têm muita proximidade em áreas como Segurança, Educação e Macroeconomia, mas em Política Externa a diferença é notável. Quando abordamos a inserção internacional vemos o ponto mais distante entre as propostas”, observa Micaela Gorritti, especialista em Política Externa do Uruguai.
Sintonia e colisão com o Brasil
Para Micaela Gorritti, a política externa do atual governo de Luis Lacalle Pou foi marcada pela ausência de uma estratégia de inserção internacional.
“Lacalle Pou não teve uma política externa planejada. Foi muito enfático em projetar acordos comerciais, tendo como caso revelador um Tratado de Livre Comércio com a China. Essa ideia ocupou um lugar muito importante na agenda durante muito tempo, mesmo quando se sabia que não era possível porque era irracional romper com o Mercosul”, recorda Gorritti.
O bloco formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, como União Alfandegária, não permite que nenhum dos seus membros negocie de forma individual um acordo comercial com um terceiro país. Uma flexibilização nessa regra faria o bloco recuar a uma mera Zona de Livre Comércio. Para a especialista, o candidato governista, Álvaro Delgado, representa uma continuidade dessa política “agressiva” contra o bloco que, segundo Lacalle Pou, representa “uma camisa-de-força para o Uruguai”.
“Se Álvaro Delgado ganhar, o mais beneficiado seria o presidente argentino, Javier Milei, quem já indicou querer modernizar o Mercosul. Quando se referem a ‘modernizar’, querem dizer voltar a uma Zona de Livre Comércio”, compara a analista.
Na semana passada, o presidente Javier Milei anunciou que procurará um Tratado de Livre Comércio com os Estados Unidos, a partir da chegada de Donald Trump à Presidência. Uma negociação de forma bilateral fere as regras do Mercosul e significa uma colisão com o Brasil.
O presidente Lula convidou o atual presidente Luis Lacalle Pou à recente reunião do G20 no Rio de Janeiro. “Mas Lacalle Pou não foi para marcar uma distância com a liderança de Lula”, ressalta Gorritti.
Do outro lado, Yamandú Orsi, seria o melhor candidato para o governo Lula não só pela sintonia ideológica, mas pela visão de um mundo multilateral e da importância do Mercosul.
“O Mercosul seria central. Orsi enfocaria nesse ponto e na liderança do Brasil. O discurso rupturista cederia lugar ao da integração. Lula seria um aliado e o Mercosul, a plataforma de inserção internacional do Uruguai. Uma eventual demanda de flexibilização do bloco passaria pelo diálogo como o governo Lula”, aposta Micaela Gorritti.
Governabilidade
Na reta final deste segundo turno, a estratégia para convencer os indecisos passou pela garantia de governabilidade.
No primeiro turno, nenhum dos dois lados conseguiu o controle da Câmara de Deputados, mas a opositora Frente Ampla conseguiu a maioria no Senado (16 dos 30 senadores). Isso lhe permite vetar qualquer iniciativa com a qual não concordar.
Por isso, o opositor Yamandú Orsi enfatizou que tem maioria para governar e que pode obter acordos na Câmara de Deputados porque o partido obteve a maior bancada (48 dos 99 deputados).
Já Álvaro Delgado, candidato de cinco partidos, procurou reforçar a ideia de que representa uma coalizão unida para governar.
“A Frente Ampla tem maiores chances de governabilidade porque tem maioria no Senado. No Congresso, as negociações e os acordos serão necessários. Os deputados de partidos menores não devem ser suficientes para desempatar. Os dois blocos estarão obrigados a negociar entre si”, aponta à RFI a cientista política Marcela Schenck, da Usina de Percepção Cidadã.
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